domingo, 13 de julho de 2008

A rosa e o tempo


Parecia um filme estranho. Daqueles de que não se sabe a origem.
No momento da crise, a música que tocava no seu computador causador de tudo sobressaiu de tal maneira que ela se perdeu no compasso e levitou por entre as notas. Levitou porque, dançar não era a sua vontade, naquele momento.
Elementos espalhados de forma displicente e inconsciente pelo seu quarto tornavam a cena ainda mais decadente. Visto por outro lado, poderia até ser poético: os resquícios de um sambinha triste no outro cômodo, a rosa carmim, deitada sobre a cômoda, iluminada pelo sol de inverno que ela, por vezes, tentara dividir em vão. A janela que mostrava a árvore cheia de flores lilás a cumprimentava de um jeito cordial e solitário.
E era assim que ela se sentia a cada vez que sua janela para o mundo era violada. Solitária. Sem aquela ligação superficial que a tornava sensível.
Pensou que nunca, num momento como aquele, a trilha sonora havia sido real. Lembrou da véspera, quando ganhou a rosa e um sorriso, e sentiu-se incrivelmente incapaz por não ter o domínio do tempo. Pensou que, agora, tinha a melodia que gostaria para a despedida de ontem.
Se controlasse o tempo, pará-lo-ia naquela lembrança. Seria fácil colocá-lo em meio às suas outras lembranças singelas e acima da realidade. Era fácil.
Na teoria.

Só percebeu que seus olhos continuaram abertos quando sentiu uma lágrima escorrer. Aquela dos últimos tempos. Uma lágrima seca, que ilustrava o momento e dava a ela a única noção do que acontecia: estava cansada.

As notas foram ficando cansadas de ajudá-la a flutuar. Secou as lágrimas do rosto e deixou as outras pra depois, enquanto escondia a rosa carmim do tempo.

7 comentários:

Unknown disse...

Se fosse possivel impedir que a flor muxasse eu até entenderia o "porque" de guarda-lá... melhor guardar a lembrança da rosa carmim sem perfume, e deixar que um capricho qualquer como um sambinha tocando ao longe cative a lembrança. Ao menos é mais legal que uma flor muxa numa gaveta qualquer...

Marcela Brunelli disse...

Você acha que eu jogaria fora um pedaço de lembrança?

Anônimo disse...

Tenho prazer em ler teus textos. Sabe quando você ouve uma história tão bem contada que se sente parte dela ? É o que eu sinto, aqui.

Keep Goin'

Gustavo Limão disse...

C tem q escrever um livro ;D

quer q eu o publique?
Mto bom, o txt, como sempre =]

bjãooo S2-balão.

Iuri disse...

meudeus,engracado,por que eu acho,que acompanhei sua evolucao,voce tem escrito muito,evolui demais..tenho orgulho(L)

Anônimo disse...

Não sabia que tu era blogueira...

Wagner Miranda disse...

pensei em tanta coisa antes de fazer este comentário...
não vou falar que gosto do que vc escreve pq isso eu sempre falei.
não vou falar que gosto de você porque isso sempre foi um fato.
também não vou falar que sua simplicidade e sinceridade me emocionam, pq já está subentendido em tudo o que eu já disse antes.
saudades.
dos e-mails, dos SMS, dos corredores puquianos e das longas conversas no msn.

saudade de tudo, que espero que seja uma semente que germine em algo maior no futuro.

paz e sucesso, na carreira e no amor. continuo torcendo por vc.

beijos.