sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Intimidades

Impressionante como a gente privilegia os que são de fora. Dosa palavra, dobra a língua, engole seco e faz com que alguns absurdos passem pro lado negro da nossa força de vontade em esquecer, ajudar ou ser agradável.
O que inquieta é que isso é tudo uma grande cercania dos domínios da intimidade. A palavra engloba muito mais do que um carinho íntimo ou coisa do gênero. Nela cabem parentes, amigos de longa data ou até mesmo o companheiro.
Já parou pra pensar que você explode muito mais fácil com quem está muito mais presente na sua vida? Não dá pra engolir uma palavra atravessada da mãe, mas daquele colega chato do trabalho vc engole a grosseria coridiana e o cafezinho horrível da máquina. É incapaz de ajudar a irmã, mas para tudo pra socorrer aquela amiga que precisa de grana e "te devolvo semana que vem". Não argumenta muito com o namorado, que você acha que já deveria saber de trás pra frente o seu discurso, mas tem a paciência de um monge tibetano quando explica pela trigésima quarta vez pra desconhecidos o que você está fazendo aqui.
Espera. Alguma coisa não anda muito bem.
E você só vai dar valor pra isso quando tiver feito alguma dessas. Ou quando sentir falta. Ou então, quando tiver tempo de digitar um texto inteio pro blog pelo celular e seu celular não vibrar com mensagem de nenhum dos 3.

domingo, 1 de julho de 2012

Às vezes eu acho que Paris roubou minha alegria. Ficou num daqueles cantos iluminados só por uma luminária amarela perto do Panthéon ou nuns dos Noctiliens que eu peguei voltando de uma saída cheia de tequila e cerveja?
Não sei. Minha alegria vaga por Paris, porque às vezes eu a reencontro num passeio etílico ou com pessoas que me deixam ser eu mesma. Às vezes eu a vejo de mãos dadas com a saudade das coisas que eu já vi ou que não aproveitei como deveria. Às vezes, ela me espera numa música nova, numa lembrança de noites viradas, dançando como se eu soubesse. Às vezes ela bate na minha porta, mas estou muito ocupada conversando com meus medos e incertezas. Às vezes ela briga demais com a tristeza. Muito. E perde, porque no meio do caminho tinha a solidão, que não ficou mais sozinha porque fez amizade com a melancolia.
Mas ela está aqui em Paris, na vida que eu levo, nos pequenos dias em que eu escrevo e me sinto leve, nas pequenas vitórias.
Está aqui, nas pequenas lembranças de dias lentos, no gramado.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

É uma festa. Com hora pra acabar.




Eu não tenho medo de mudanças. Eu tenho medo do sofrimento causado por elas.
Para evitar isso, eu tenho me podado de algumas coisas, por aqui. É uma estadia curta: um ano, doze meses e muitas, mas muitas pessoas que não farão mais parte da minha rotina. Que não estarão do outro lado do celular com mensagens ilimitadas, nem andarão pelas ruas de Paris depois da balada cantando o sucesso chiclete do momento e dançando, depois de umas e outras.
Pessoas que são importantes na composição do quadro que eu pinto de Paris e que me trouxeram e continuam a trazer sorrisos a cada nova página em branco que eu ofereço a mim mesma, na esperança de sempre fazer melhor, de fotografar uma cidade diferente a cada passeio ou simples saída do meu quarto.
Eu sei que vai ser difícil. E mais difícil ainda vai ser aceitar que a realidade de cada um de nós é diferente e que eu tive todas elas por um pedacinho de vida e agora, por mais que eu queira visitá-los algum dia, não será mais a mesma coisa.
Eles partem, e eu sinto não que o clichê "um pedaço de mim vai com eles" se faz verdadeiro, mas que um pedaço da minha juventude, das minhas festas e dos meus "dolce far niente" açucarados foram jogados no meio da chuva de verão. E é triste. Porque, por mais que eu tenha evitado deixar com que alguns transpassassem as muralhas do meu castelo, alguns simplesmente fizeram a ponte baixar e, sem batalha nenhuma, entraram, tomaram um chá (ou um vinho) e me deixaram ali, fazendo de conta que eu ainda dominava minhas parcas emoções a respeito de quem entra ou fica na minha memória.
Eu vou sentir falta de tudo isso, por mais que eu tenha criado essa barreira invisível. Por mais que eu queira aceitar suavemente que isso passa. Por mais que eu esteja presa a Paris por lembranças de momentos que eu não vivi e de alegrias que eu não tive. Eu sei que elas estavam ali, esperando por mim. E foi uma escolha não fazer sempre de Paris a festa que ela prometeu.

Sendo um passeio de domingo à tarde, já vai fazer um rombo no meu coração quando eu fechar a porta e não disser tchau pra quem viveu isso comigo.
Imagina se fosse um eterno sábado à noite...

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Se eu peco é na vontade




Estar longe tem dessas.
Você enfim tem nas mãos aquilo que sempre quis. A liberdade, a quebra de rotina, a cidade cheia de sotaques, o cheiro da baguette e da roupa mal lavada. A história por todo lado, a beleza dos takes de cinema, o pôr do sol visto da ponte indecisa, sem saber se vai ou se volta. As pinturas que você transforma em foto. As fotos que foram pinturas, muito melhores do que os falsos fotógrafos enfiados na frente de filtros falsos como suas fotos.
Você tem o glamour das vitrines daquele filme que vc viu. Tem a oportunidade. Tem o "make it real" gritando na sua cabeça, o "você pode, é só se esforçar". Tem a superação do ano passado te puxando pela mão e falando "nada pode ser pior, vai que dá". Você tem o seu sonho morando com você num quarto sem luxo, mas que te acolhe melhor do que aquela Boulangerie cara da esquina. Ele fica ali, quietinho; você mal percebe que ele tem um pedaço da sua vida. Ele mostra sua cara quando pega sua mão e te leva prum passeio breve, logo ali. Ali, a 15 minutos de metrô, 12 horas de avião e 4 anos de trabalho.
Você só pode contemplar. Sentar e olhar, olhar, olhar. SABER que aquilo não vai fazer parte da sua vida daqui a poucos meses é uma realidade difícil de enfrentar. Então você sabota sua mente e seu sonho, numa tacada só, com doses homeopáticas de utopia e esperança. Deixa os dois atordoados, como você, assim que chegou por essas bandas.
E quando enfim você tem certeza de que pode dividir seu amor entre sua terra Natal e essa terra tricolor, vem uma música. Simples, poucos acordes, cantor desafinado. Uma das suas bandas de cabeceira. Uma turnê. Um show que vai acontecer só agora e ninguém sabe quando será o próximo. E você, com tudo isso que tem nas mãos, com todos os 'bons dias' dados ao abrir a janela porque seu sonho te abriu os olhos pela manhã, só queria um dia de 2006, pulando como criança em matinê de carnaval.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Que maré!

E depois de um tempo abandonado, a gente volta aqui só pra dizer poucas e boas. Ou muitas e boas. Ou poucas e ruins.
O que importa de tudo é a lição que se tira. É saber que olhar adiante é sempre o melhor. Viver o agora com tudo o que ele te traz (sofrimentos tb, por que não?) e sempre olhar pra frente, buscando alguma coisa.
A maré te ajuda, mas vc precisa remar.