domingo, 19 de outubro de 2008

Medos


Um dia eu tive medo.

Eu sou mesmo muito medrosa. Tenho medo de estampidos, de palhaços, de filmes de terror e, principalmente, de coisas que eu não posso controlar.

Mas, como eu vinha dizendo, eu tive medo.

Tive um medo grande, quando gostei da sensação que senti quando ele me abraçou. Eu quis senti-lo perto de mim por outras vezes, e esse querer me afetou. Eu quis não sentir, quis não me deixar levar e sim levar as coisas.
Pra onde?

Ninguém sabe.
Eu tive medo de quando comecei a sentir a falta dele. De quando os pequenos carinhos e elogios começaram a funcionar quase como um anestésico para as dores cotidianas e de como eles me fizeram dependente.

Fiquei num estado de desespero quando comecei a desejar que ele me abraçasse com todo o carinho devotado a algo de que você não quer se desfazer nunca. De quando eu desligava o cel e percebia que estava triste por não tê-lo do meu lado...
Comecei a ficar desesperada quando vi que tudo aquilo já era indispensável, pra mim. Que aquelas frases confusas, sem saber se já podia ser quem era ou se ainda mantinha a fama de mau, me faziam lembrar do começo de tudo, quando eu ainda não sabia quanto medo eu poderia ter de mim mesma.

Fiquei com medo.

Só queria ele do meu lado, quando eu achava chatas ou legais demais.
Sentir falta, hoje em dia, dá medo.



"O que mais me incomoda não é não ter recebido mensagem. É ter sentido falta delas."

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Ventríloquo


Ela sonhava em ter sua amiga de volta. Uma amizade unilateral, quase maniqueísta. Queria a comodidade de ter alguém sempre do seu lado, mesmo que isso custasse a liberdade de escolha do seu velho apoio.
Mas certas coisas haviam mudado. Não havia mais, por parte da sua companheira, aquela vontade de evitar o clima bélico acima de qualquer coisa. Suas vontades estavam, em doses esparsas e homeopáticas, se tornando suas prioridades. Seria um atentado contra sua integridade moral submeter-se, em todos os momentos, às vontades ditatoriais daquela cuja habilidade principal era fingir-se de ventríloqua.
Claro que, por conta do aparecimento escasso de sua força de vontade, seus desejos ainda não eram cem por cento respeitados. Isso causava uma estranheza absurda à quem a desejava por perto novamente. Causava, também, brigas e discussões para ver quem realmente deveria governar aquele barco chamado pelas duas de “minha vida”. Seria realmente de uma delas? Ou fora carinhosamente alcunhado assim pela importância que adquirira?

Não sabiam.
Mas queriam ter o controle.

Era justo que uma falasse pelas duas?
...
Não, não era. Mas assim como o ventríloquo não admite a vida do boneco, ela não admitia a vida de sua amiga. Dizia, controlava os movimentos, não dividia com ninguém. E, quando se cansava, guardava-a na sua estante, junto com o perfume, o porta-retratos e outras coisas que eram só dela.
Era bom tê-la por perto.

(...)
Uma amiga como essa deve mesmo fazer muita falta.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Confins

Porque eu gosto do seu abraço
E gosto do que me faz sentir.
Gosto de quando sorri de lado
E do jeito como me olha.

Gosto do banco da escola,
Do muro que ouve beijos e confissões.
Gosto de olhar a lua cheia,
De ver que seus olhos brilham muito mais assim;
De imaginar que meu cabelo está brilhando, também, e que formamos um casal simpático.
Gosto, de um jeito que eu não queria, de ouvir que você sente minha falta enquanto me beija depois de um fim de semana longe.
Gosto das coisinhas pequenas, das lembranças e daquilo que você faz mesmo sem saber se eu vou retribuir.
Gosto da sua mão procurando a minha, numa caminhada - e de quando elas se entrelaçam depois de se encostarem.
Gosto de nossas fotos mentais e de como as revelamos sem papel especial.
Gosto de nossos jogos lógicos e lingüísticos. Das retomadas das premissas de cada um e do quanto elas se moldam aos nossos interesses.
Gosto.

Mais do que deveria.


(diretamente dos confins da minha bolsa e do dia 20/05/2008)