sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Passo a passo

Acordou fazendo parte da propagando de margarina. O sol iluminava o quarto e produzia sombras nos lençóis claros.
Ele não estava a seu lado, mas, pelo barulho dos talheres, deduzira o óbvio: fazia o café, numa noite em que ela custara a dormir.
Questionou internamente o real sentido de tudo aquilo, porque suas crenças eram baseadas no binômio palavras + atitudes. Apenas uma das duas partes não tornava sua sentença verdadeira, por mais que, em certas vezes, abrisse mão de tal comprovação: acreditava no que fosse mais fácil. E agora, acreditar que o café era um gesto de cuidado e carinho era o melhor a fazer.
Nunca mais esquecera daquela manhã: gestos de carinho ansiosos, a refeição cuidadosamente planejada pra ela, a preocupação dele em carregar a bolsa dela, sempre tão pesada.
Sentia-se a portadora de algum tipo de riqueza, daquelas que não precisam de escoltas armadas, mas da proteção que estava recebendo.
Não tinha como não pensar que tudo havia mudado no momento em que recebera aquele envelope. Não pensava mais por si, nem tinha qualquer pensamento que não fosse maculado pelas letras daquele papel. Nunca fora dona de seus pensamentos. Olhava pela janela sem saber o que seria..
No caminho, sentiu de novo aquele olhar. O mesmo de cinco anos atrás, quando ela ainda era uma incógnita e ele não sabia o que o momento permitia dizer. Sentiu-se amada.

Chegaram.
Protocolos, guias, senhas, aguarde, a senhora será chamada pelo nome.
Ele percebia o nervosismo dela. Sempre tiveram jeitos diferentes de lidar com isso. Ela inventava assuntos para que o silêncio não a conduzisse a caminhos tortos por meio de seus pensamentos, mas uma hora seu estoque acabava. Seu olhar se perdia e ele sentia que era hora de recostá-la em seu ombro. Assim o fez. E ficaram os dois sentados, em silêncio, sem querer solidificar aquela ansiedade.
Tudo isso foi quebrado pela som daquele nome feminino sendo chamado pela atendente e ecoando pela sala de espera.

Entraram na sala.
Enquanto ela se trocava, ele se sentia fora d'água, mas tentando lidar com o ambiente que frequentaria por muito tempo, dali em diante. Observava cada detalhe e tentava entender sobre tudo.
Ela deitou-se. Sentiu aquele gel refrescante em contato com a sua pele e seu coração disparou ainda mais. Turbilhão.
Ele a olhava como se ela fosse sua maior riqueza... que carregava agora maiores tesouros.
Ele segurou a bolsa, a mão, o choro:

Estavam grávidos.

3 comentários:

Daniela Yoko Taminato disse...

que foda

um dia quero!

Anônimo disse...

um dia terei!

duas, fodas

Unknown disse...

comercial de margarina tem mulher gravida?