quarta-feira, 9 de maio de 2012

Se eu peco é na vontade




Estar longe tem dessas.
Você enfim tem nas mãos aquilo que sempre quis. A liberdade, a quebra de rotina, a cidade cheia de sotaques, o cheiro da baguette e da roupa mal lavada. A história por todo lado, a beleza dos takes de cinema, o pôr do sol visto da ponte indecisa, sem saber se vai ou se volta. As pinturas que você transforma em foto. As fotos que foram pinturas, muito melhores do que os falsos fotógrafos enfiados na frente de filtros falsos como suas fotos.
Você tem o glamour das vitrines daquele filme que vc viu. Tem a oportunidade. Tem o "make it real" gritando na sua cabeça, o "você pode, é só se esforçar". Tem a superação do ano passado te puxando pela mão e falando "nada pode ser pior, vai que dá". Você tem o seu sonho morando com você num quarto sem luxo, mas que te acolhe melhor do que aquela Boulangerie cara da esquina. Ele fica ali, quietinho; você mal percebe que ele tem um pedaço da sua vida. Ele mostra sua cara quando pega sua mão e te leva prum passeio breve, logo ali. Ali, a 15 minutos de metrô, 12 horas de avião e 4 anos de trabalho.
Você só pode contemplar. Sentar e olhar, olhar, olhar. SABER que aquilo não vai fazer parte da sua vida daqui a poucos meses é uma realidade difícil de enfrentar. Então você sabota sua mente e seu sonho, numa tacada só, com doses homeopáticas de utopia e esperança. Deixa os dois atordoados, como você, assim que chegou por essas bandas.
E quando enfim você tem certeza de que pode dividir seu amor entre sua terra Natal e essa terra tricolor, vem uma música. Simples, poucos acordes, cantor desafinado. Uma das suas bandas de cabeceira. Uma turnê. Um show que vai acontecer só agora e ninguém sabe quando será o próximo. E você, com tudo isso que tem nas mãos, com todos os 'bons dias' dados ao abrir a janela porque seu sonho te abriu os olhos pela manhã, só queria um dia de 2006, pulando como criança em matinê de carnaval.

2 comentários:

Daniela Yoko Taminato disse...

Um vez li em algum lugar que esse dilema é que é a verdadeira experiência de viajar. Estar longe e sentir (ironicamente) um laço mais forte com o que antes era banal nos dias normais. Ao mesmo tempo, deixar a alma se embriagar com o novo do lugar onde foi parar e começar a apaixonar-se. Voltar? Como largar toda uma nova descoberta de como viver? Ficar? Mas como abandonar tudo que representa e define o "EU" até então? A decisão nunca foi nem será fácil. É preciso estar disposta a abrir mão de algum dos dois lados apaixonantes que se pode viver ao mesmo tempo quando está viajando "de passagem". A decisão de um possível definitivo é que é cruel. Pra isso tem que ter coragem e um mínimo de certeza para escolher onde o coração vai pousar depois desse magnífico vôo. Se fica nas paragens do estrangeiro. Se volta pro calor: brasileiro. Qual seja a decisão, o que é incondicional é a torcida pelo seu melhor amiga. E isso sobrevive a tudo. Inclusive à saudade forte que sempre aparece vez ou outra. Fica bem.

Daniela Yoko Taminato disse...

E escreva mais.