segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O dia em que você foi pro Japão


No dia em que você foi pro Japão, as horas não passaram. Acordei sem saber se você estava indo dormir ou se já era muito tarde pra isso. Só sabia que você tinha ido pro Japão.
Resolvi esperar.
Você não levou malas, nem roupas, nem retratos antigos. Foi. Mudou-se para uma terra longínqua sem aviso prévio, sem dar qualquer sinal de que voltaria.
Quando abri meu armário, senti falta de alguns carinhos antigos que eu guardara para me lembrar sempre – a velha mania de aprisionar lembranças. Eu sempre os procurava quando você não estava por perto. Talvez você tenha levado consigo; talvez tenham sumido com o tempo. O fato é que não estavam ali.
Procurei por um aviso de sua volta. Não havia. Lembro de ter sentido um forte aperto ao imaginar que você não voltaria, mas fui confortada por nossos amigos e suas palavras, que disseram que você era assim mesmo. Não há necessidade de se apertar.
Tudo bem. Lá fui eu, andar pelos nossos lugares e imaginar o que você deveria fazer naquele exato momento, agora que havia trocado o dia pela noite. Olhava e esperava pra ver se você não aparecia por detrás daquelas pilastras dizendo que tudo não passava de uma surpresa – o que se encaixava bem no seu perfil –, mas a cada minuto passado ansiando por isso, sua chegada se tornava cada vez mais utópica.
Fui cansando de esperar sua volta triunfal, dizendo que tentara incessantemente falar comigo mas a rede não havia deixado. Essa espera descabida por algo que não vai acontecer desilude.
Resolvi apenas esperar você voltar. Horas, dias, meses: não fazia idéia de quanto tempo isso duraria. Esperei. E você voltou, sem a voz de ânimo pela viagem feita nem pela volta. Sem aquele sorriso, sem o abraço, sem sede... sem você.

Deve ter se esquecido no caminho. Sobrou apenas um tanto de você.

E eu, que esperei pelas minhas lembranças, também não as tive. Só saudade.
Alguém deve ter achado seus pedaços na volta.
Aos poucos você fica inteiro, de novo, e voltamos a ser nós dois, no nosso Brasil.

7 comentários:

Unknown disse...

Uma coisa sobre viagens longas... a gente demora pra "voltar" inteiro...

Anônimo disse...

Eu gostei de sua alegoria sobre o amadurecimento e a nostalgia :D

Viajar! Nunca pensei no ato de crescer, de envelhescer, dessa maneira.

E a escolha de palavras deu um tom um pouco saudoso!

Boa reverteração hehe

Anônimo disse...

Gostei muito do seu texto. Dá pra sentir a angústia. É, muitas vezes as pessoas mudam de uma forma que as descaracteriza e passamos a nos perguntar se eram mesmo o que pensamos um dia. Já aconteceu comigo. E não é preciso ir para o Japão; pode acontecer debaixo de nossos narizes.

Anônimo disse...

Olá, é o cara da Geo (ou o ex-cara dos cachos) bom, fiz um blog, se quiser ver pode ver, se não, não precisa, também não há muitas coisas interessantes, mas eu admito.
Tudo é ideológico? Era isso que eu vivia repetindo??
Beijos, moça.

Daniela Yoko Taminato disse...

é... eu quase chorei agora (uma lagrimazinha discreta não é choro vai!)

Unknown disse...

japao power

Anônimo disse...

saudades de tuas palavras.
tentei postar em Bolsa de Mulher, mas acho que ela já estava cheia demais!
=)