“Eu sou capaz de escrever um texto, bem agora.” ela pensou.
Não cabia em si de felicidade por ter momentos como aquele. Sabia que eles durariam pouco, como tudo o que faz bem e anima a alma, mas, naquela hora, tinha de lidar com todos os sintomas mais clichês de uma plenitude crônica que havia se instalado ali.
A realidade paralela em que se encaixavam os quadros que eles pintavam não parecia tão paralela assim. Os dias tinham 24 horas; as noites, quantas eles quisessem. O café da manhã vinha com chá morno, beijinhos a granel e declarações de amor. A manhã e a tarde se passavam com brincadeiras na piscina, sorrisos sinceros e elogio ao brilho dos olhos no sol. Quando não, havia o passeio na praia, regado a um céu de baunilha, passeio de mãos dadas e a sensação de que aquilo jamais se repetiria com tamanho capricho pelos deuses, que outrora se divertiam com a vida escorregadia dela.
À noite, um descanso num colchão qualquer, num canto qualquer, mas não com qualquer abraço. Só aquele. Exatamente aquele, do jeito que ela gostava, a fazia sentir a princesa de que ele falara. E ela ganhava abraços daquele tipo para coroá-la rainha de seus momentos únicos.
Depois dos abraços, ora o sono vinha, ora não. Quando vinha, trazia junto consigo aquela sensação de completude, proteção e de que, sim, ele estava lá, velando por ela.
Ela não poderia pedir mais. Até pediu, em determinados momentos, que o portal se fechasse e que, enquanto a vontade de ficar ali fosse mais forte do que os compromissos sociais e antissociais, eles vivessem naquele quadro de Monet. Mas, como era de se esperar, a realidade parecia muito com aquele mundo à parte. Tanto que, quando bateu a meia-noite e os celulares marcaram o último dia cronológico dessa coleção na galeria, ela teve de catalogar tudo rapidinho. Foi capaz de separar tudo o que lhe interessava e colocar lembretes com frases que o fariam lembrar dos quadros que pintaram juntos, mesmo se voltasse pra lá sozinho. Guardou tudo, limpou a casa e a deixou vazia. No lugar do sol, o escuro; no lugar das risadas, saudade; no lugar da TV, os quadros no canto, apenas esperando para serem recolocados.
Trancou a porta e assim foi, chutando pedrinhas e pensando no dia em que voltaria.
5 comentários:
Não é qualquer texto! É exatamente aquele, do jeito que ela gostava...
:)
Lindíssimo, Tché... acho q já encontramos a romancista da turma, hein... Lindo mesmo
Quase nunca sei o que comentar quando vejo algo tão bem escrito.:) Shakespeare uma vez disse que nenhum poeta deveria escrever sem antes temperar a tinta nos suspiros do amor. Taí.Não tenho mais nada a declarar. ;-)
Beijão.
w.
como diria ela mesmo...
"nhaaaaaaaaaaaaaaa"...
mto bem, mto bem... naum fossem os caprichos de "romeu e julieta" em sua vida neh carioquinha...
see yah...
Lindo!!!!
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