sábado, 19 de abril de 2008

Cicatrizes

Há um tempo, eu fiz uma cirurgia nos olhos. É impressionante lembrar daquele tempo! Eles estavam inchados, e eu via as coisa com uma certa deformação: ora as via maiores do que realmente eram, ora as subestimava pelo seu pouco tamanho.
Resolvi então fazer uma incisão cirúrgica que me custou um dia em casa e alguns pontos na parte inferior de cada olho. Nunca senti dor ou qualquer outra coisa que me fizesse lembrar daquele dia. Mas agora, às vésperas do aniversário de um ano da cirurgia, esse tema (e outros também) tem me vindo à cabeça por causa desse frio de outono.
É impressionante como o vento gelado parece queimar minhas cicatrizes. Volto a senti-las como se ainda não estivessem cicatrizadas, e ao me perguntar se cuidei bem delas para que secassem.
Quando o vento bate em meus olhos, ao mesmo tempo em que os sinto secos, começo a ter a sensação de queimação. Mas não uma cauterização que fecha: simplesmente dói. Simplesmente queima.
Num segundo momento, aquela secura se torna tão grande e a queimação, tão incontrolável que meus olhos começam a se umedecer... cada vez mais, até que percebo uma lágrima rolando e sinto, sem nenhuma dúvida, minhas feridas abertas novamente (seria injusto chamá-las de cicatrizes).
Por isso, o medo do frio. Ele consegue transformar coisas sólidas em baldes de papel machê a serem moldados. Certezas marcadas em idéias nebulosas. Cicatrizes em feridas abertas. Expressões felizes em rostos molhados, seja pela chuva ou por lágrimas sem nexo.
E ainda estamos no outono...

Um comentário:

Unknown disse...

E o outono nem é tão frio assim...